REINVENÇÃO DA LINGUAGEM?
Uma pessoa ativamente falante, ouvinte e leitora, pode chegar a ter contato
com aproximadamente cem mil palavras por dia. E nem sempre isso compreende
saber o significado de todas as palavras que ouviu ou leu. Por outro lado,
também dizemos palavras desconhecidas a outros. No ambiente virtual, os usuários
encontram lugar propício para inventar e reinventar termos extraordinários
que, ao significar coisas já existentes, rompem com o modelo linguístico da
escrita formal provocando críticas e deboches, mas também promovem grande
repercussão. Clic em Mais Informações para ler o artigo na íntegra.
Nesse contexto, a evolução gráfica na internet registrou a fase da
escrita intercalando letras com números e outros sinais gráficos; o vigente internetês,
linguajar caracterizado pela abreviação de palavras e de enunciados,
tais como tb/também, ñ/não, pq/porque; e o surgimento do tiopês, em que as
palavras são escritas de propósito diferentemente da ortografia padrão. O próprio
vocábulo tiopês vem de tiop, oriundo da modificação da grafia da palavra
tipo. Essa forma de escrita busca proteger o conteúdo da mensagem e, com isso,
cria uma gramática do erro ortográfico, de variação na construção da frase e na
atribuição de novos significados. Esse comportamento se propaga como vírus.
Algumas gírias e expressões são tão atraentes aos internautas que se tornam
poderosos memes, repetidos e copiados milhares de vezes. Ao deformar a estrutura
da palavra ou modificar a construção da frase, o enunciado estabelece sua
própria relação intertextual com o mundo, o que provoca, em quem lê, ironia,
crítica e risos. Mas, contudo, o que motiva a propagação dessas expressões é
a subversão dos padrões convencionais da escrita e da semântica e a grande
dose de humor presente nas novas palavras e frases resultantes dessa infração.
Atualmente, o pajubá/bajubá é o mais recente linguajar no cenário virtual. Para
falar sobre ele, destacamos três palavras enviadas por um leitor que, por curiosidade
ou por reclamar acessibilidade linguística, pediu-nos o significado de
eré/erê, okó/ocó, odara. Os termos são oriundos do idioma africano Yorubá,
em que: eré significa um estado de transe atribuído a um espírito-criança; okó
significa homem, marido e pênis; e odara é estar bem, ficar bem. Palavras do
idioma Yorubá são bastante utilizadas em ambiente religioso de matriz africana,
tais como, Umbanda e Candomblé. O pajubá tomou essas e outras palavras por
empréstimo e, após modificar a grafia e adaptar novo significado, inseriu-as no
popular dicionário pajubá/ bajubá). O acervo é bastante utilizado no mundo
colorido, entre homossexuais e travestis, e de uso corrente no repertório de Grupos
LGBTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros), dentro e fora
do espaço virtual.
Artigo retirado do Diário Corumbaense - Corumbá - MS - Sexta-feira, 24 de abril de 2015 - ANO: IX - Edição: 1959
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